Chega-me a agitação noturna
Seguindo as estrelas fumo industrial;
A maquinação em histeria!
O pulsar ludibrioso da cidade
Que só sente quem por ela caminha.
As turbinas em movimento
Com breves compassos de descanso,
A incongruência do que se move e se mostra parado
A procura de uma verdade num edifício bem montado
Na mentira que é saber que foi com defeito edificado.
A cidade mente até no seu brilho natural
Quando a luz não lhe chega do sol mas de forjado lampião.
This songs that cut the silence
Hold my chest high, to make bigger the fall.
The repetition testing my patience
Wanting to see me crawl.
Little do I know that the lyrics are my own,
The instruments playing my heart
And the voice singing my soul.
Algo me segura as palavras,
Ou sinto minhas palavras não valerem nada...
Sou estátua no meio d'uma praça
Que tenho eu a dizer à gente que passa?
A haver um feitiço que me desprenda do mármore,
Que minhas articulações de bronze
Se façam em carne,
Que as joias que me arrancaram
Não me castiguem o valor
Pois mesmo sem pernas ou braços
Não me sei ser aos bocados!
Se meu peito lateja
Sou eu todo meu peito
E se minha ação for só observar gente
Faltarei (...)
Sou ingénuo a acreditar
Que tudo é verdadeiro
Quando a amar,
Que leva brando o veleiro
O vento em alto mar.
A tempestade que se adivinha
As nuvens a dançar,
O escuro ser a noite que caminha
Esperando-se chegar o luar!
Oh, que o amor me é tudo isto,
Seguir contra qualquer encontro e velar
Gravando-o não em papel mas em xisto.
O dia vem claro
Mas não a clareza do dia,
O preço por ela é caro -
Tivesse eu sabedoria!
Que o sol me queime a fronte,
Minha vista nele se encontra
Pois meu peito bebe da fonte
Da luz que nele entra.
Adormeço e acordo
E o pensamento é o mesmo,
De quem virei brinquedo
Alvo de gozo e sarcasmo.
Entretém-se a alma
Que se viu no peito crente
Numa salva de palmas
A mim, que se via inocente.
Peco por falar e por manter o silêncio.
À vida, que nada pedi, só isto me ofereceu...
Como posso querer mais, se meu mundo é fictício?
Nesta vida que sigo enganado
Troco os passos e sigo calado
Carregando o peso de minha consciência
Que me apunhala em dolorosa cadência.
Perco a mão que segurava
Que m'acalmou a alma brava.
Prisioneira de meu olhar
Que soube nunca capaz de amar
Oh, tempo! Passa verdadeiro,
Revela-me no teu tinteiro
Que cores uniste à minha!
Mostra-me no teu livro emprestado do destino
E badala a resposta em dourado sino
Que minha alma anseia e adivinha.
Ah, que têm chegado dias cinzentos
Como se a alma me fosse externa
E todo o mundo observasse a cisterna
De meus sentimentos sedentos.
Vai que transborda,
Que todos vejam o que tenho por dentro
Sem receio de o mostrar para além d'ao vento
Pois meu peito alimenta-se e engorda!
Qu'ignorância a minha...
Se meu peito acorda
E prende-se por uma corda
Não sei quem com ele caminha.
Adormeci neste dia
Minha alma vagueia
Eu espírito em apneia
Entre o real e magia
Oh, minha papoila de ópio
Tua influência meu agrado
Eu ao fracasso fadado
A quem ser triste é próprio
Chega-me o sono
Euforia e transbordo
Trinco e mordo
Cai folha de outono
No longo inverno de meu sopro
Tudo frio e gelo, um sufoco
Nas palavras de um louco
Idas p'lo vento num assopro.
Meus passos borram a estrada
Daquilo que me sou
E deixo na calçada,
Questionando para onde vou.
Sempre para onde vou,
Sempre quem vai.
Cansado de onde estou...
Tão cansado quanto a vida me trai.