Com que olhos o mundo vê?
O sossego existe. Todo ele aprecia a harmonia entre o vento e as árvores, esvoaçando um - balançado o outro.
Eu também existo, e sinto essas duas forças da natureza comigo, neste momento.
O vento sopra, suspira entre as árvores, esguio, receoso de ser descoberto. As árvores escutam-no, retraem a informação que ele lhes oferece, umas vezes mais, outras menos agitadas.
Algo me dizem, ou sobre mim discutem. Sinto-o. Um olhar em mim está presente, mesmo estando eu só.
Que dirão eles? Reparo que se contrariam algumas vezes, soprando o vento forte, remexendo-se os ramos das árvores ferozes, quase como uma batalha que travam. Depois reconciliam-se, o vento afaga a pobre coitada, esta cuida da sua cobertura.
Mas e eu que os julgo, que estou eu a fazer? Quem me diz que lutam se não os vejo isso fazer. Porque os julgo eu sem os conhecer? Quem me diz a mim que a julgar-me estão eles a fazer? Eu.
Não consigo deixar de os ver, de lhes atribuir as características que o meu olhar lhes atribui. E isso veem eles em mim, o meu olhar julgador da sua liberdade, da sua simplicidade de vida, da minha inveja.
Retraem-se da minha presença, não se sentem tão libertos quando julgados. Não os censuro, quem realmente o faz? Mas não me ignoram, sinto-me mais solto a cada brisa, mais leve a cada balanço dos ramos das árvores... Eu só lhes olho, eles tudo me ouvem, tudo o que digo cá dentro eles ouvem. Não me julgam. Não o sabem fazer. Não lhes pertence esse juízo tão característico do ser humano, mas sim tentam me compreender, qual instinto natural que têm para se adaptar às situações a que estão adversos.
Limpam-me lágrimas que não derramei, forçam-me sorrisos que não demonstrei, fazem-me pensar em coisas que nunca pensei.
E para tudo isso não precisei de abrir a boca; um olho bastou...
(Imagem da minha autoria)