- Amor -
Não sei o que dizer do amor.
Leio-o em poesia
E, não sendo palavras minhas
Entalam-se-me na garganta
e sufocam-me de não saber o que dizer.
Não compreendo amar.
Leio-o em poesia
E escuto-o em canções,
Nenhuma minha,
E fico à deriva num mar de emoções.
- Retrato -
Sou amar e mais quem sabe
Num verso que deixo escrito.
Sou pintura e mais não sei
Num quadro promíscuo.
Sou qualquer coisa que ama, sem o prazer de o degustar.
S (...)
Que febre que me arde pelas têmporas
Qual pirotecnia cerebral.
E estronda, e arrebenta,
E ouço risos de quem festeja
A morte das estrelas pelo artificial.
Como os vejo correr, os mais novos desalmados atrás do fogo
E como se queimam, ao aproximar as mãos à chama
E como gritam e como eu os gosto de ouvir guinchar!
Vai o velho sacudir-lhes as cinzas dos corpos
E vão eles junto das cinzas.
O que me regozijo ao vê-los curvados e negros
E vida a ir, como veio, num (...)
Gostava de não saber ler.
Tão pouco conhecer uma língua e a escrever.
Assim, para realmente viver,
E o esplendor da vida (re)conhecer.
É engraçado, esta estória de querer,
Faz-se-lo tanto sem nada temer,
Não receando o fracasso ou o conceber:
Na mente está tudo o que se quer...
Na poesia o homem é Deus.
Criador de tudo,
Observador de nada.
Mais não é que a mão autora
De um mundo que concebeu.
É tão simples, um risco desenhar,
Uma palavra surgir;
Um (...)
Colhidas tenras do solo
Trocam as raízes pela saudade,
Vivendo da ternura
Que o tempo não apaga de quem amou.
Não nos chegam apenas dos jardins
Delicados e doces perfumes,
Ou arco íris de cores onde se fazem as flores
Vestido para a Primavera.
Em sorrisos abertos,
Envergonhados ou mesmo sem felicidade,
A sua entrega guarda no tempo o momento
Em que uma flor te encostou nos lábios
Onde te viu o peito aberto e lá fez casa.
São elas lágrimas, ápices de (...)
Atravesso a estrada como que fugindo do escuro.
A calçada molhada, suja e com odores de repugnar a alma
Serve-me de refúgio para aquilo que celeremente passa
A todo o gás.
Talvez sem tempo,
(Quem sabe mesmo sem nada),
Procuram encontrar aquilo que lhes falta... Antes de ser tarde de mais.
E eu? Que corro do alcatrão para a pedra cansada,
Abrigando-me sob postes luminosos
Que o que fazem é projetar sombras
Onde me deveriam iluminar os passos?
Estará tecido no meu destino
Deixar ir.
Nem tudo o que tem corpo se segura,
Nem tão pouco se aprisiona ou se vai atrás.
É livre a escolha que perseguimos?
Ou aquilo que, estando escrito, nos fez seguir
Sem rumo, sentido ou jeito;
Meio que tropeçando, cambaleando,
Aos soluços e em lágrimas.
Por mais que seja nosso,
É livre de nós a escolha de escolher.
São momentos que passam,
Que nos atravessam a correr
Sem travões para parar a tempo
De nos dar tempo de pensar.
O que fazer depois vai (...)
A poesia não me chega.
Ou talvez seja eu que não sirva para ser poeta.
Das tantas palavras que me vejo sedento
Nenhuma me sacia realmente.
Não tragando eu do licor da vida,
Faço da experiência a leitura do rótulo da garrafa em que é servido.
No entanto não há câmbio possível entre tal feito
Por mais idolatradas que sejam as palavras nele escrito.
A poesia não me chega
Para amar.
Sinto-o forte, o amor no peito,
Ele uma dor doentia que não me larga:
Fosse (...)
Como a uma melodia num piano
Ritmam-me os dedos no teu peito, comigo
Arrastando vagarosamente as teclas,
Saboreando a passagem de cada nota.
De ti, o pulsar, a música que ouvimos todas as noites
No quarto, iluminado apenas com a nossa presença.
Oiço-me inspirar pesadamente, com
O ar carregado da tua fragrância
Enchendo-me o peito, expirando como que com medo de a perder.
Como se algum artista impressionasse, desenho a tua silhueta
Sentindo-te por debaixo das leves vestes (...)