Gostava de não saber ler.
Tão pouco conhecer uma língua e a escrever.
Assim, para realmente viver,
E o esplendor da vida (re)conhecer.
É engraçado, esta estória de querer,
Faz-se-lo tanto sem nada temer,
Não receando o fracasso ou o conceber:
Na mente está tudo o que se quer...
Na poesia o homem é Deus.
Criador de tudo,
Observador de nada.
Mais não é que a mão autora
De um mundo que concebeu.
É tão simples, um risco desenhar,
Uma palavra surgir;
Um (...)
Surgem-lhes, nas falanges dos dedos
Onde se vê cosida a sua identidade
Pigmentos férteis de cor reflexa a seus olhos
Absorvidos pela superfície branca que estes acariciam.
Tragado o sonho como bom licor,
Lambe-se em devaneios e espasmos
Lábios que não proferem o quão doce sentem tal bebida.
Ebriedade absoluta com que cambaleiam o corpo
As mãos e a pena
De olhar fixo em ponto algum
Numa imagem deveras impressionante!
Refugiam o pensamento em papel desbotado,
(Vítim (...)
Na composição do amanhecer, ecoa
P'las ruas serpenteadas do meu bairro
Afazeres obstinados daquilo que penso.
Tropeçando em silêncio, deambulam línguas reticentes
Em profanar insolentes locais,
Convertendo a voz num culto profano
Abundando o sigilo emocional.
Fruto da pesada consciência,
Deforma-se aquilo que forma não tinha ainda;
Escondendo-se entre a névoa o que brilha à luz do dia.
Apedrejam-se numa sanguinária batalha
Seres ferrenhos com o (...)
Vão-se tempos embora,
Fechando de rompante a porta
Atrás de si.
Seguem de passo apressado,
Não pela chuva, vento ou nada
Pois observo-os pela janela escondido pelo cortinado;
Esqueceram-se de mim.
O quanto estremece aquela casa com a brusquidão das suas partidas,
Deixando todos os presentes encolhidos, sem saber de si.
- Vou-me embora? Perguntam-se.
Todos ficam quando na despedida de alguém
Fazendo as malas no dia seguinte, indo-se também.
As aguarelas dos (...)
Como a uma melodia num piano
Ritmam-me os dedos no teu peito, comigo
Arrastando vagarosamente as teclas,
Saboreando a passagem de cada nota.
De ti, o pulsar, a música que ouvimos todas as noites
No quarto, iluminado apenas com a nossa presença.
Oiço-me inspirar pesadamente, com
O ar carregado da tua fragrância
Enchendo-me o peito, expirando como que com medo de a perder.
Como se algum artista impressionasse, desenho a tua silhueta
Sentindo-te por debaixo das leves vestes (...)